quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

Arte e Improvisação - 3.ª Parte

por nuno de matos duarte
Ao por em evidência o imediatismo do gesto, o improvisador não está a negligenciar a estrutura da obra de arte dele resultante e esta não será menos “arquitectónica” por isso. Na arte actual, o gesto sobre a matéria em transformação, durante o intervalo de tempo em que a obra toma forma, é também, de certa forma, manifestação que nega as categorias de gosto impostas pelo marketing do meio artístico. É ainda a recusa da diluição da personalidade do artista na vasta panóplia de géneros e estilos impessoais e “internacionais”. É a afirmação implacável da sua individualidade, não pela via do maneirismo formal que nos habituamos a associar a um autor, mas antes pela evidência da incisão ou do moldar da matéria. Não é um “vale‑tudo” e, aliás, nunca o poderia ser, porque em plano de fundo a arte tem sempre presente uma ética que condiciona a estética e, por contraditória que esta afirmação possa parecer, é por este motivo que o artista sério não faz concessões aos gostos (aos gostos do público e aos do próprio artista). A sua acção procura ser construção de realidade que nega a realidade precedente, mudança que sugere a ideia de evolução na arte. Mesmo na obra de aparência tranquila pulsa a inquietação latente que é da natureza da arte.

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